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Importância dos saberes e costumes populares para construção da identidade em uma sociedade pósmoderna

Proposta de Redação URCA: 2019

CORDEL, PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL

Que venham as Musas e Vênus, o mestre pensamento, Apolo, Dionísio, todas as figuras de retórica e de toda a poesia, o encantamento. Falar sobre cordel não é gesto somente da razão, passa pelos sentidos, pela paixão. Quem é esse livrinho de feira que tanto nos encanta? De onde vem assim tão sedutor, chega mesmo é de fora ou nasceu autóctone no coração do Nordeste do Brasil?

Questões desse tipo vêm acompanhando as décadas e décadas de existência do folhetinho e eis que, para alegria de poetas e admiradores, o dia 19 de setembro de 2018 amanhece luminoso, respondendo para o mundo, de maneira digna, afirmativa, a essas e outras tantas indagações. A literatura de cordel é registrada, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, no Livro das Formas de Expressão e recebe o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

Para além da visibilidade nacional, da repercussão na mídia internacional, que outras conquistas, estruturantes, poderiam decorrer da vitória é o que os mais atentos se perguntam. Sim, porque o cordel vive muito mais de resistência e teimosia do que de reconhecimento oficial. Vive da jornada contínua de poetas, pesquisadores, professores nos saraus de poesia e eventos literários, nas feiras de livro, nas bibliotecas e escolas, a despeito das consideráveis lacunas em manuais didáticos e livros de historiografia da poesia brasileira, da quase total ausência em cursos de Letras que não conseguem se debruçar sobre a exuberância de tradição constituída de poemas consagrados e continuamente renovada por obras e poetas de talento respeitável. Avançaremos, portanto, com a conquista do título, em direção a um maior discernimento, e consequentes práticas valorativas, acerca deste legado poético, histórico, ancestral, que se move entre nós e é uma das nossas grandes referências culturais?

E de que servem as nossas referências culturais, senão para compreendermos o mundo e poder simbolizar nossas relações com a vida e a morte? Falar de patrimônio cultural significa, portanto, mais que se ufanar, implica refletir sobre os pilares que constituem um patrimônio cultural: diversidade, sensibilidade artística, identidade, história, imaginário coletivo, memória social.

Assim, vislumbramos no cordel mais do que desavisados poderiam ver: a polifonia entre nossas vozes e as vozes de tradições poéticas procedentes da Grécia antiga, de Portugal e Espanha, das narrativas do romanceiro ibérico medieval, da poesia árabe, da poesia provençal disseminada no continente europeu a partir do sul da França. As figuras de retórica são algumas das principais companheiras de poetas desse ramo da tradição.

E há mais refinamentos: o sistema estrófico, a contagem silábica e tônica de cada verso, o ritmo, os temas, as modalidades de estrofe e de figuras de retórica escolhidas conforme a classificação temática, a exemplo das pelejas de cordel que, por serem pelejas, adotam procedimentos linguísticos e formais do repente de viola. Augusto de Campos, no livro Verso reverso controverso, analisa a Peleja do cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, e aponta a semelhança entre os elaborados recursos estilísticos usados pelo autor, Firmino Teixeira do Amaral, e os utilizados pelo poeta provençal Arnaut Daniel, trovador occitano aclamado “o melhor criador”, por Dante, e “o melhor de todos”, por Petrarca. Cordel, afinal, não é folclore no sentido reducionista, caricato, pejorativo, no qual o conceito às vezes é entendido. Aparentemente fácil de fazer, apreciar e memorizar por conta das rimas e da linguagem coloquial, exige talento e dedicação. Requer não apenas o conhecimento e a prática de quadra, sextilha, setilha, décima. Necessita de entendimento histórico, conhecimento de repertórios para enriquecimento da prática. A respeito da sextilha, inclusive, um equívoco de pesquisa se repetia, atribuindo a invenção da estrofe de seis linhas ao poeta paraibano Silvino Pirauá de Lima (1848-1913). O engano desconsiderava as várias camadas de memórias, de saberes tradicionais.

Desconsiderava o fato de a sextilha existir em versos portugueses, inclusive em poemas do século XVI que subsequentemente circularam no Brasil, e também em versos brasileiros, tais como poemas de nosso maior barroco, o baiano Gregório de Matos, que, no século XVII, além de quadras, décimas e outras modalidades de estrofe, praticava o verso de seis linhas.

(...)

Neste ano, 2018, mesmo ano em que a literatura de cordel celebra o centenário de morte de Leandro Gomes de Barros e a conquista do título de patrimônio cultural brasileiro, nós nos perguntamos: o que podemos e devemos desejar para o cordel? Que políticas de salvaguarda precisamos propor a nós mesmos, pesquisadores, poetas, declamadores, professores, editores? Como cultivar essa árvore frondosa, secular, que se ramifica pelo Brasil e nos protege e serve de remanso?

(MARIA ALICE AMORIM é jornalista, escritora, pesquisadora de cultura popular e doutora em Comunicação e Semiótica. REVISTA CONTINENTE, 01 de novembro de 2018. Adap.)

PROPOSTA II

A partir da leitura dos textos motivadores, produza um texto DISSERTATIVO sobre o tema “A importância dos saberes e costumes populares para construção da identidade em uma sociedade pósmoderna”.


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